Reviravolta
Pontualmente ele estava lá. Perfumado, bem vestido e com aquele sorriso de quem tem mil mistérios prontos a me deixar desvendar.
Estava tudo impecável. O jantar, o lugar, a conversa e a boa companhia.
Ele ainda me fazia rir como sempre, me fazia feliz desde sempre e demonstrava que queria isto para sempre.
A noite estava fria e seus braços fortes me davam um calor além do transmitido pelos meus agasalhos. Era calor humano, o melhor de todos para uma noite de inverno.
Estava tarde quando chegamos. As ruas desertas nos deixavam ainda mais sozinhos.
Eu poderia descrever a sua pulsação naquele momento. A intensidade do que queria me transmitir era refletido com toda clareza naquele par de olhos castanhos.
- Está tarde e frio, acho melhor eu ir.
Sua expressão mudou a cada palavra que eu disse durante aquela frase.
Ah, meu querido. Eu não poderia ceder aquele beijo. Não ao seu beijo!
Desci e andei em direção ao meu apartamento sem olhar para trás. Nada ia valer substituir todas nossas recordações, beijos apaixonados, cartas do dia dos namorados, flores no aniversário, nossas desavenças e reconciliações, amores e prazeres. Eu não poderia lhe beijar sem sentimento, não poderia desfazer o elo tão bonito que ficou guardado ao nos distanciarmos.
Você estava de volta, mas não por completo. Eu estava lá, mas não era mais sua.
Eu deixaria de ser sua amiga para nos tornarmos amantes, mas não estava disposta a sair de amante para uma velha amiga.
Se tratando de amor, o coração é bem cruel. Nem sempre descer um degrau é tão fácil assim.
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