Eterno

A noite gelada nos embalava. Pelas ruas da cidade íamos numa espécie de urso que procura uma toca em dias obscuros. Já não sentia minhas mãos ou pés... Por dentro estava frio também.
Recostei-me no banco e fiquei observando-o e ouvindo seus relatos sobre a vida. Em alguns momentos senti vontade de saltar sobre seu colo e fazer juras de amor até o novo nascer do sol, mas me mantive ali, enroscada em mim mesma e agarrada aos meus joelhos, como criança que se protege de algo mais forte que a própria vontade. 
Fixei-me no nada. Era a tentativa de deixar desaparecer entre as árvores da estrada o desejo que aflorava cada vez mais... 
A luz do farol escondeu o nevoeiro e algo conhecido tomou os olhos. Havíamos chegado ao meu destino. Era hora do adeus.
O frio desaparecera à medida que aqueles braços longos se aproximavam do meu corpo. Rosto colado e coração rente um ao outro... Era como se tudo estivesse novamente ali: perfeito, intocável e constante.
Mas além do desejo, algumas pessoas não nasceram para serem uma. Embora cada encontro faça nascer sempre uma chama, o frio lá fora a apaga a cada piscar de olhos. Talvez seja isso que as pessoas querem dizer quando falam que certos amores são eternos por serem intocáveis: você reassiste apenas os melhores momentos e mata uma saudade ou outra do ator principal, mas nunca mais irá revivê-los por completo.
No fim das contas, foi quase como um jogo. Eu perdi, ele perdeu, mas nosso amor venceu. Ainda que após aquele abraço meu corpo adormeça gelado em minha cama, nosso amor viverá aceso em algum lugar do mundo. Porque ele ainda vive por tudo que já foi e por tudo que ainda nós o fazemos ser.

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