Novo embarque



Me recordo como se fosse ontem. O cheiro, a lágrima presa e a vontade que eu tinha de nunca soltarmos as mãos se fazem presente todas as vezes que passo em frente a rodoviária.
Tinha a impressão que as ruas eram ainda maiores quando eu queria atravessar para te encontrar, que o relógio não contribuía todas as vezes que me atrasava e corria ao máximo para te dar um último abraço e   olhar teus olhos misteriosos pela última vez.
Eu sabia que você iria voltar, mas tinha medo que seu coração viesse acompanhado de uma forasteira que roubasse meu lugar e todas as coisas que eram minhas. Que roubasse nosso dia, nossas ligações, nossas mensagens recheadas de afeto, tinha medo que ela roubasse meus apelidos, que você a chamasse da mesma  forma que me chamava quando estava chegando cheio de saudade... Tive medo que deixasse a distância ser  maior que o laço que o une a mim, já que nada romperia o laço que me unia a você.
Passamos tempos assim. Nessas idas e vindas, lágrimas e abraços, amor e saudade, encontros e desencontros. A vida tratou de não nos levar um do outro. Você estava longe mas   estávamos seguros, ainda éramos os mesmos, os quilômetros não deteriam nosso amor.
Problema maior foi quando percebi que distância ou ausência não eram os maiores problemas. Você retornou de vez, mas as mensagens cessaram, as ligações passaram a ser cada vez mais raras e a sua presença... Bem, eu já não me recordo quando nos vimos pela última vez.
O outono havia findado. Era 19:23h e eu olhava o relógio sem parar. A temperatura era de aproximadamente 18ºC - frio o suficiente para uma carioca acostumada à sol e água de coco.
Cachecol, chaves e vontade. Até estava frio lá fora, mas eu estava em chama viva por dentro.
As palavras, meio tortas meio quebradas, não se encaixavam na cabeça e no coração havia uma espécie de tsunami que não deixava nada no lugar. Confusa, só queria mesmo o calor nos meus pés novamente, mas um calor natural. Nunca te escondi que não suporto meias.
As ruas da cidade voltaram a ser mais distantes, já que saudade batia incansavelmente e com mais força a cada curva feita.
Parei naquela mesma Cafeteria onde costumávamos estar todas as manhãs, olhei para o sexto andar na esperança de vê-lo na janela sem saber se era o que realmente queria. O celular, ainda enrolado na capinha que roubei na primeira noite que dormi em seu apartamento, rodava de uma mão para outra tentando distrair a mistura de ansiedade e medo presente em meu rosto.
Só queria saber o que havia acontecido, não conseguia justificativas para um sentimento tão puro e intenso ter desaparecido sem ao menos dizer adeus, sem um último olhar como daqueles que trocávamos há algum tempo. Você esperou estar perto para se tornar distante, esperou não haver mais despedidas para partir.
Paguei o café e voltei para casa. Fiz as malas e guardei nela todas as nossas lembranças.
Não, eu não estava de partida. Era você que ia embora, o nosso "nós" estava pegando uma passagem só de ida.
E se antes rodoviárias me lembravam saudade, agora me lembrarão oportunidade. Do mesmo jeito que você se foi, um amor há de chegar. Depois de tantos altos e baixos, agora é hora de embarcar numa nova estação, e ela se chama recomeço.


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