Desejo
O desejo era tanto, que me senti sem reação. Tive medo de continuar e ver você borrar minha maquiagem e tirar em instantes a roupa que vesti para seduzi-lo. Tive medo de que chegasse a hora de ir embora, de nós dois sozinhos na alta madrugada, da solidão que me acompanharia ao entrar pelo portão sem ter tua mão na minha e sem ter teus abraços durante a manhã, já que seus braços e abraços são meus apenas por horas.
Foi difícil não ceder, você percebeu. Só quem arrepia cada partezinha do seu corpo e faz seu sangue bombear no maior dos ritmos, sabe te tirar do sério. Aliás, só você tem o poder de tornar meu mundo mais leve e me fazer flutuar, assim como só tu sabes afundar meu barco ao passar semanas sem dar notícias.
Quis demais que você fosse embora, quis demais que você ficasse pra sempre, quis não pensar, me agarrei numa lógica pessoal de que, pra você, seria mais uma noite, eu seria mais uma, seria somente prazer. Preferi, então, ser perseguida pelo meu desejo que não tem dia pra acabar, do que ceder e ser abandonada de uma vez pelo teu, que dura no máximo algumas horas.
Mas aonde estava a força para negar a mais louca das vontades que não é saciada e continua existindo? Sim, continua existindo: na dúvida de como teria sido, na consciência do prazer negado, na esperança de ver seus olhos exalando tesão no próximo encontro.
Eu achava que era forte e que querer te seduzir não me faria cair nas suas habilidosas mãos. Mas é quando você pensa que é corajosa e estrategista o bastante, e que contar até mil vai ser suficiente, que o destino arma para você e no primeiro desvio do olhar, o desejo se faz presente do outro lado da rua, te olhando e esperando a primeira derrapada.
Fomos para casa, ergui o peito para evitar que o coração caísse e escondi meus olhos dos teus.
O desejo me acompanhou durante todo o percurso. Chegamos.
- Tenha uma ótima semana! - Você disse.
Enquanto abria a porta de casa, abafei uma lágrima que queria se fazer presente. Por alguns instantes cogitei te ligar e ter aquelas horas de delícia que fariam os segundos, de possíveis arrependimentos, insignificantes. Mas parei, pensei e preferi ficar somente com as lembranças de tudo que vivemos e que nunca me causou sofrimento algum.
A noite se foi, mas você está aqui. Junto com o fogo da lembrança que me aquece e com esse cheiro gostoso que carrego de toda nossa recordação do passado.
Marryzinha, ARREBENTOU!
ResponderExcluirÓtimo texto. Parabéns!
Eu não faço elogios à toa.
Beijo Grande!°