A espera

Por Vitor Quintan



Não era reclamação, tudo o que ela queria era um pouco mais de proximidade. Fazia dias que ele estava assim, distante. Perto dos olhos, diga-se bem, mas distante.
Era outro daqueles tempos de caverna dele. Tempos que se fecha para resolver. Homens resolvem, ele sempre dizia. Mulheres esperam, pensava ela.
Ela sabia que ele queria seu melhor. Mas não era o melhor que ela queria. Estaria satisfeita com muito menos do que ele imaginava, sua presença, seu colo, sua atenção.
Ele se esforçava em dar de tudo e não era tudo o que ela queria, ele era o seu bastante.
Ela o esperava porque sabia de sua volta, ele não percebia quando ia.
Ele a queria perfeita, idealizada, ela o queria assim, só ele, sem tantos adereços.
Não eram incompatíveis, não eram complementares. Em tudo o que lhes faltava e sobrava eram inteiros a dois, dueto para a vida, música.
Competiam de tempos em tempos e era a vitória do desejo de estarem juntos. Para além do amor, juntos, para além das diferenças, juntos.
Ela sabia da falta de seu olhar. Ele não sabia onde deitar seus olhos nesses dias.
Ela o sabia seu. Ser dela o fazia.