A chuva levou


Era tarde, e em um desses últimos domingos de março, a chuva caía sem piedade e alcançava todos aqueles kilômetros da minha pequena cidade.
Cada móvel, cada cantinho pertecente a um cômodo, cada objeto fora do lugar, lembrava você.
Lembrava nossas risadas; nossos amores repentinos que, de tão intensos, reordenavam as coisas de uma forma única, da qual ríamos depois da bagunça que fizemos; nossos dias aconchegados um no outro, para nos protegermos do rigoroso inverno...
Pela janela daquele sexto andar, eu ainda observava os carros estacionarem no nosso restaurante de sempre, ainda me lembrava das nossas intermináveis conversas pelo celular e do arrepio que tomava conta do meu corpo ao saber que subias cada lance de escada.
A tempestade continuou e trouxe com ela um frio que não se foi por muito tempo. Ao contrário de você.
Partiste.
Juntamente com cada gota derramada sobre o peitoral da janela, lágrimas recheadas de lembranças das suas declarações de amor tomavam conta do meu rosto, assim como aquelas que derramavas a cada primavera que nossa relação completava.
Os meses findaram e só me restaram lembranças. Lembranças dos seus olhos inundados de ternura me dizendo que mulher alguma tomaria o meu lugar em sua vida. O problema é que demoraste tempo demais e, hoje, ao atender cada ligação tua, já não posso dizer o mesmo.

- Me fizeste feliz. Mas precisei sacrificar o nosso ontem, para buscar o meu melhor do amanhã.

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