Fotografia da saudade



Minha mãe sempre  pergunta porque tanto guardo aquelas caixas coloridas no quarto dos fundos e admito que elas seriam a última coisa que eu excluiria da minha vida.
É onde carrego meus tesouros mais valiosos. Todos os sonhos de menininha materializados de alguma maneira, tudo que o tempo me deixou  e que vento nenhum levará.
Guardo um pedacinho de minhas melhores épocas. Minhas memórias que trazem aquele frescor ao coração e brotam um pequeno sorriso no canto da boca. São recordações de amores, pessoas que tocaram além do coração, tocaram a alma, e de alguma forma, me mudaram para melhor.
Guardo minha infância pincelada com todas as cores do arco-íris e rabiscada de giz. Aquela foto com meus poucos dentes, a medalhinha de melhor aluna, as primeiras amiguinhas do colegial, os grandes micos nos passeios de História. Hoje, simplicidade. Ontem, o motivo de alegrias imensas.
Revejo o álbum de fotografia. Mas, desta vez, uma folha com bordas amareladas anexada a um pedaço de fita lilás, inesperadamente, repousa sobre o chão.
Além do retrato, as palavras.
Além das palavras, a saudade.
Ainda sou capaz de sentir o cheiro da grama molhada em um daqueles dias de setembro.
E por mais que o tempo voe, os caminhos mudem de rumo e a vida continue, o que é belo permanece. Certos momentos estão além de caixinhas, baús de madeira ou qualquer outro material feito por mãos humanas.
São registrados a fogo no coração, onde tempo nenhum apaga e memória alguma esquece.
E eu vou seguindo assim: enquanto meu quarto exala o perfume das flores do campo, tudo aqui dentro exala saudade.

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