Apagou

Ele hoje havia ligado, e por coincidência, estava tocando nossa música na rádio.  Conversa rápida, estava tudo bem, o casamento da minha prima havia sido bom e essas coisas do tipo. Eu estava de saída, então não nos falamos por mais de dez minutos.

Desliguei.

Estávamos desligados.

Uma pessoa comum em um dia comum não se torna mais um grão de areia na praia. Todos entendem bem o que quis dizer. Sabe aquele pessoa que te manda mensagem no meio da noite e você acorda sorrindo depois de ler somente um "Bom dia"? Então, ele já não era desses...
Durante o trajeto do trabalho fui olhando para o celular e não consegui ver o que aconteceu. Havíamos crescido? Talvez. A rotina até mudou e tomamos caminhos diferentes, mas nada disso é o suficiente para apagar uma chama quando ela quer ficar acesa.
A justificativa seria que não houve mais lenha. O que havia lá, era verdadeiro, mas foi como uma pequena fogueira no meio de uma mata no inverno. Enquanto alguém colocava lenha, ela se mantinha acesa e aquecia os que se achegavam a ela... Mas houve um tempo em que se cessaram os galhos, ou os forasteiros cansaram de doar-se para mantê-la acesa. E ela, com a ventania do inverno, um belo dia apagou.
Desci, comecei meus afazeres, deixei o celular na bolsa.
Apagamos então.
E, sem chama acesa, ele era apenas mais um do outro lado da ligação.